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18h00

Estátua da Esperança é restaurada pelo artista Israel Kislansky no Hospital Santa Izabel

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A Estátua da Esperança, esculpida pelo artista Israel Kislansky, em 2012, passou por um processo de restauração, que envolveu limpeza, renovação da pátina, enceragem e a alteração da base, que foi diminuída em cerca de 50 cm.

A escultura foi criada por Kislansky após vencer um concurso promovido da Santa Casa da Bahia para criar a terceira escultura da instituição que representa uma das virtudes teologais: a esperança. A primeira, a Estátua da Caridade (1851), está situada no Museu da Misericórdia; e a segunda, a Estátua da Fé (1865), no Cemitério Campo Santo.

A obra foi modelada em São Paulo, no ateliê do artista, inicialmente em argila, seguindo para o processo de fundição em metal.

“A escultura foi feita em dois meses e o processo de fundição durou um mês. Escolhi uma simbologia que representasse a esperança, colocando aos pés dela dois pássaros, um que alça voo e outro quieto, no chão, em uma alusão à partida e permanência. O gesto da figura repete esse mesmo pensamento com as mãos, uma levantada e a outra no peito, refletindo sobre a questão da permanência e da elevação, a transcendência. O coração é o condutor do que vai e do que fica”, disse o artista.

Apesar de ter nascido na Bahia, Israel Kislansky é radicado em São Paulo desde 1983. Em Salvador, existem apenas duas esculturas dele em exposição: além da Estátua da Esperança, no Hospital Santa Izabel; a escultura Mãe Bahia, feita em cimento, localizada na praça Recanto São Francisco, no bairro do Itaigara, que foi doada por Kislansky, em 2017, à capital baiana.

Atualmente em cartaz com a exposição “As Bacantes”, no Palacete das Artes, no bairro da Graça, Kislansky aproveitou a estadia em Salvador para acompanhar a restauração da peça. “Estávamos conversando há algum tempo sobre a possibilidade da reforma da Estátua da Esperança. Agora que estou aqui com a exposição, se tornou o momento exato. Trouxemos um especialista, de Minas Gerais, o fundidor Alexandre Silva, que é proprietário da Fundição Artística São Vicente, para fazer essa nova pátina. Ele tem muita experiência e é na empresa dele onde são fundidas as minhas obras”, contou.

Há dez anos, Kislansky criou o Centro Técnico em Fundição Artística do Senai, em São Paulo, onde Alexandre foi um dos alunos. “Esse processo se modernizou muito. Na época, não tínhamos o conhecimento que temos hoje. A pátina que está sendo feita agora é muito mais sofisticada e qualificada do que a que foi feita há dez anos. Vamos implementar um sistema mais fácil de manutenção, que gera uma durabilidade maior. Sobretudo, será uma pátina mais bonita”, pontuou.

O processo de restauração teve duração de quatro dias. “A obra não estava danificada, somente a superfície, portanto, será um tratamento superficial. A peça está muito bem fundida e não há nenhum dano no metal ou instalação”, ressaltou o artista.

Passo a passo - Segundo Israel Kislansky, a pátina não é uma pintura, mas sim, uma oxidação sobre a superfície. “O bronze é sempre verde ou marrom, pois a oxidação do metal produz sais que são dessas cores. O bronze é uma liga metálica que deriva do cobre, estanho e zinco. O cobre, ao receber o ácido, se torna esverdeado. Hoje fazemos uma série de aplicação de ácidos diferentes que dão tonalidades e nuances mais bonitas. Estamos usando nitrato de cobre e nitrato de ferro intercalados”, descreveu Kislansky, sobre o processo de restauro.

“O gosto pela pátina oxidada surgiu através de um equívoco da renascença. Naquela época, descobriram mármores gregos brancos e bronzes soterrados no mar, na cor verde, porque oxidaram. Então imaginavam que as cores, branco e verde, era devido ao uso do metal e da pedra puros, significando a pureza. Não se sabia que tudo era pintado. A partir daí, começaram a fazer as esculturas como as de Michelangelo, completamente em mármore, sem pintura. Toda arte medieval era pintada, policromada. A partir da renascença, para imitar os gregos, os artistas passaram a fazer o mármore liso e o metal oxidado, jogando ácido sobre a peça. Esse ácido faz com que a oxidação seja rápida e a cor venha com facilidade. Por isso a gente esquenta, joga o ácido e ele precipita os sais”, explicou.

História - A Estátua da Esperança, de Israel Kislansky, feita em bronze, é a única obra do Século XXI, existente na Santa Casa da Bahia, que simboliza uma das três virtudes teologais, descritas no Catecismo da Igreja Católica.

As outras obras são do Século XIX. A Estátua da Caridade está instalada no claustro do Museu da Misericórdia, no Centro Histórico de Salvador. Ela foi esculpida em pedra de lioz pelo escultor português Francisco de Sales, em 1851. A estátua foi um presente do provedor da época, Francisco José Godinho, que exerceu o cargo entre 1847 e 1857. Na obra, a caridade é representada por uma figura feminina rodeada de crianças que buscam amparo e proteção.

A Estátua da Fé, esculpida em um único bloco de mármore de Carrara, pelo escultor alemão Johann von Halbig, em 1865, está situada no Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação. Ela foi comprada em Munique, na Alemanha, pelo Barão de Cajaíba, para decorar o jazigo do filho, José Joaquim Francisco Gomes de Argollo, falecido em 1861. A obra é representada por uma figura feminina vestindo uma túnica, com a cabeça coberta por louros, um dos símbolos da vitória. A obra foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1966.

Segundo a museóloga do Museu da Misericórdia, da Santa Casa da Bahia, Osvaldina Cezar, foi convencionado que as virtudes teologais fossem representadas por figuras femininas.

“O que muda, neste contexto, é a forma como foram representadas, devido ao material de composição e as características de estilo. As estátuas da Caridade e da Fé, por serem mais antigas, obedecem ao padrão de composição mais erudita. Já a Estátua da Esperança, é feita em bronze, com composição contemporânea”, comparou a museóloga.

“A Estátua da Caridade, doação de um provedor, teve a intenção clara de representar a virtude principal da instituição. Também como forma de identificar o próprio hospital, que na época era chamado de Hospital da Caridade. A virtude da fé, podemos associar ao simbolismo da fé na vida futura, mas que também não perde o seu simbolismo de virtude, não sendo exclusiva da arte cemiterial. A esperança foi feita por encomenda da Santa Casa para compor o trio das virtudes que nos aproximam de Deus, por ser uma instituição tradicional, que nasceu sob a égide do catolicismo cristão, sendo interessante ter as três representações”, concluiu.

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